Uma entrevista no ABC de Madri revela a opinião da autora María Acaso que diz em recente livro publicado a rEDUvolution que não existe TDAH e sim crianças entediadas com o tipo de ensino que as escolas estão a oferecer.
Leiamos a entrevista e que cada um tire a sua conclusão.
Minha tradução para o português de forma ligeira . Versão no original em espanhol aqui
Não há transtorno de déficit de atenção, apenas crianças entediadas.
A autora de rEDUvolution (Polity Press) diz na entrevista que “não é o Transtorno de Déficit de Atenção e hiperatividade (TDAH), apenas crianças entediadas em sala de aula”, sabendo que está a entrar em terreno espinhoso. Para a autora María Acaso, também diretora da Escola de Educação Disruptive (EED), da Fundação Telefonica, não importa a controvérsia gerada porque ela está absolutamente convencida disso. Em sua opinião, “medicar com anfetaminas crianças de dois anos, com um alegado TDAH visando a concentração é simplesmente ultrajante“. “Você não gostaria de pensar em mudar a educação que eles recebem?” “Ocorre que é lugar comum falar sobre a obsolência do sistema educativo atual e premente necessidade de realizar uma mudança tanto de conteúdos como de metodologia, de romper com o passado, mas o problema é como fazê-lo?”
-Em rEDUvolution, seu último e provocante livro, você pretende fazer uma mudança de paradigma. O que temos é ruim?
– Não é que está ruim, apenas não serve mais. As crianças vão para a escola com seus Mp3, seus celulares e com sua flauta doce. Por favor! Tudo mudou e isso tem a ver com a gestão do conhecimento. Igual aos médicos que não podem mais operar sem anestesia, como era no século XIX, hoje não se pode aprender com uma lição tradicional, cujo a única coisa que se consegue é uma educação bulímica que se atraca com a informação vomitada no dia das provas e após os três segundos e de ter saído pela porta já esqueceu tudo. Esse é o paradigma que a educação tradicional pratica. É preciso de uma educação experimental, motivador, ativa. Enquanto que em outras disciplinas está super aceito que o inconsciente modifica todo o processo de absorção de dados, na pedagogia não. Atualmente parece que todos os alunos têm que entender a aula da mesma maneira, tomar notas e responder nas provas o mesmo. O primeiro passo para a rEDUvolution é admitir que isto não é assim. Como os professores aceitam que ensinam e os alunos aprendem outras coisas. Uma classe de vinte pessoas cada uma vai desenvolver-se de acordo com sua própria biografia, sua criatividade, seu conhecimento … um discurso diferente. Esse é o evento educacional.
—Como supõe fazer isso?
— Não há muito sentido programar objetivos porque não serão cumpridos. Quiça seja melhor elaborar pequenos objetivos do que grandes metas, tudo aberto e flexível.
– Aceitar que se aprende mais daquilo que não é explícito do que com do que é explícito. O explícito é o que o professor diz , o livro de texto, o power point.. mas há várias coisas ,desde a iluminação da classe , de como o professor se veste, como está organizado a aula que nos dá muito mais informações que o que está sendo dito. Tudo o que se refere as pedagogias invisíveis se óbvia na pedagogia tradicional e é preciso recuperar isso.
– Qual deve ser o papel do professor nesta nova pedagogia?
– Seu papel deve se o de um produtor cultural , como um artista. Deve saber capturar conceitos e “remixa-los”, entendendo como “remixar” o sistema de produção contemporânea. Não se trata de copiar. É relacionar. E criar sua “playlist” da classe.
– Você propõe inicialmente por alterar o papel do professor referindo-se como um “coacher”.
— Sim, o professor deve priorizar a agenda de seus alunos acima de todas as coisas, especialmente acima do centro do sistema educacional de sua própria agenda. Na educação tradicional o professor impõe tudo, conteúdos, formas, metodologias, e agora eu acho que deve ser muito importante usar o conhecimento dos alunos e incorporá-los. O que interessa ao aluno está acima do que interessa ao professor. Referimo-nos as oito inteligências de Howard Gardner ..
– Isso é uma utopia se você tiver cinco ou dez alunos, quem dirá se forem trinta.
— De qualquer modo, o que os professores fazem é negar os interesses dos alunos. Não se trata tanto do que fazer com trinta alunos em distintas classes e sim no está a dizer, vou tentar saber o que interessa aos alunos e de que forma incorporo nas aulas de modo geral. Se o interesse é futebol, o melhor que posso fazer é incorporar este esporte como recurso para explicar matemática. Ensinar videoarte para adolescentes é muito difícil, mas se ensinar videoarte a partir de videoclips é muito mais fácil. Acredito que as crianças , os adolescentes , têm interesses, então, o professor criativo é capaz de encontrar esse link.
– Por isso a criatividade do professor é uma qualidade indispensável?
– Sempre se está a falar da criatividade do aluno, mas me parece fundamental a criatividade do professor, acima de suas competências e de seus conhecimentos , um professor criativo chegará a tudo realizando unidades didáticas maravilhosas. É esquecer a apostila e criar experiências incríveis.
—Deveria também mudar sua formação.
-Sim, claro. O problema que vejo na pedagogia é que ela executa um processo de reprodução na formação de professores. Se passa a metade da vida queixando-se de seus professores, mas quando se converte em um volta a fazer o mesmo. Um professor novo, super temeroso, se mete em uma aula de ensino médio com quarenta adolescentes e não sabe o que fazer e por isso se faz duro, sem se dar conta de que é preciso fazer o contrário.
— Onde fica a lei da autoridade do professor, tão necessária em alguns casos incluindo agressões sofridas por parte dos estudantes?
— Pedagogia e poder … Em uma estrutura de controle.. Não só é preciso parecer democrático, é preciso ser democrático. Todos somos democráticos de boca para fora. Ao chegarmos na aula somos autoritários. Se estamos falando de democracia, não podemos chegar e fazer um monólogo. Ou não se pode falar em democracia e subir em um palco.
– Qual proposta de mudança você propões para acabar com êxito esta rigidez?
– A primeira delas é criar na classe uma comunidade , em lugar do antagonismo “professor x estudante”, pois neste momento o estudante tem muitos conhecimentos, por exemplo, de tecnologia. E o que farão? A ideia da comunidade o professor entra como “coach”, como acompanhante , mas nem sequer é um acompanhante, os professores e estudantes como “coachers” um dos outros. Se você trata o aluno como um igual e lhe dá mais poder, seus problemas se reduzem. Estes problemas aumentam quando mais autoritário é o sistema. Se você dá responsabilidade para o aluno tudo melhora. Se o obrigas e dá somente disciplina ao final surge o medo. É preciso recuperar os afetos em sala de aula, são muito importantes.
Habitar a sala de aula
– O que é e qual é a máxima do “edupunk” , que você faz referência?
— Mais do que uma metodologia é um nome, um guarda-chuva que abriga todas as metodologias que não são tracidionais. A máxima é que não se pode mudar conteúdos sem mudar a arquitetura pedagógica. Não se pode defender uma educação diferente por intermédio de aulas expositivas. Não se pode dar uma aula com um mobiliário industrial se quiser uma classe orgânica. É preciso revisar o formato e mudá-lo.
– O mais próximo que temos a este sistema é a metodologia por projetos?
– Sim. Definitivamente sim, mas na Espanha há muito pouca oferta de educação alternativa.
— Para você é justa a greve de professores e as manifestação de sábado? (que ocorreram na Espanha no início de 2015)
— Ambos os atos indicam que as pessoas estão a pedir uma rEDUvolution. Estão reivindicando a gritos melhores salários para os professores, que sejam considerados e bem formados como o modelo finlandês , onde a chave é o professor.
— Os professores finlandeses também ganham. Ao que parece são os melhores da promoção e logo passam evoluções continuas.
— É certo, o professor finlandês está muito bem formado e é elite. Mas também está super reconhecido socialmente. Ao contrário, aqui o trabalho do professor está despretigiado, precarizado… O problema fundamental é a formação do professor.
– E como se soluciona isso?
– Mudando o sistema. Nota de corte para pedagogia igual que ocorre na engenharia.
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