A visão sistêmica de mundo, ou seja, o modo de compreender fenômenos sociais ou naturais como sendo sistemas complexos é o pressuposto de uma pedagogia que se pretende ser ecológica. Fazem parte desta visão de mundo conceitos, tais como: complexidade, multiplicidade, não linearidade, rede ou teia, interconexões, probabilidade , dentre outros.
Estes conceitos são muito importantes nos tempos atuais, porque talvez a sobrevivência dos seres humanos dependa da mudança de paradigma que está em curso. Digo sobrevivência porque colocamos a espécie humana em risco ao criarmos toda esta parafernália tecnológica. Para saber mais a respeito da situação crítica que o planeta está vivendo, assista ao documentário Mudanças do Clima, Mudanças de Vidas: como o aquecimento global já afeta o Brasil do Greenpeace.
Segundo David Orr (educador ambientalista, um dos diretores do Centro para Ecoalfabetização localizado em Berkley, Califórnia, E.U.A.) as novas gerações precisarão desmontar o modo de pensar, os saberes e poderes que forjaram a industrialização da Terra, porque vivemos uma emergência planetária. As gerações futuras precisarão: estabilizar a população mundial; fixar e depois reduzir a emissão de gases que ameaçam mudar o clima — proteger a diversidade biológica; reverter a destruição de florestas e conservar o solo, cuja erosão diária atinge milhões de toneladas; utilizar melhor a energia e os materiais disponíveis; aprender a usar a energia solar sob todas as suas formas; eliminar a poluição e o desperdício; aprender a administrar recursos renováveis e a iniciar a imensa tarefa de restaurar, da melhor forma, os danos causados à Terra nos últimos 200 anos de industrialização.
Para Orr, frear esta situação caótica somente enfrentando o desafio da educação. A tarefa não é nada fácil, porque a organização do saber e do funcionamento de instituições de ensino, sejam escolas básicas ou universidades, se apóiam, até os dias de hoje, no modelo cartesiano/newtoniano e , consequentemente, no método taylorista.
Frederick W. Taylor, no início do século XX, elaborou um modelo que organizou e definiu o trabalho dos operários nas máquinas. Esse modelo produtivo instalado em todo o mundo ocidental, caracteriza-se por uma divisão do tempo, especialização e distinção estanque das atividades, trabalho regularmente prescrito, hierarquia das funções, das disciplinas, dos trâmites, normas de desempenho, controles padronizados, produção em massa de produtos em série.
Observando a escola ainda encontraremos este mesmo modelo atuando de diferentes formas : hora de entrada, o sinal para o intervalo, hora para ir ao banheiro, hora de português, a hora de falar imposta pelo professor, sinal para a saída. Esse tipo de organização temporal ,herança das comunidades monásticas , e adotada pela indústria, foi bastante útil para os propósitos do capitalismo de até então. Do mesmo modo, a disciplina escolar e a organização espacial dos alunos ,também de origem longínqua ,serviram aos interesses do modelo taylorista: as carteiras enfileiradas, comuns na grande maioria de salas de aula; “são espaços que realizam a fixação e permitem a circulação; recortam segmentos individuais e estabelecem ligações operatórias; marcam lugares e indicam valores; garantem a obediência dos indivíduos, mas também uma melhor economia do tempo e dos gestos.” (Foucault/1995/pg.135)
O local de trabalho e, portanto, dos assalariados, segundo o modelo taylorista é especificado por atividades prescristão, sujeitos aos humores de seus professores que , em contrapartida, estavam sujeitos aos humores da política escolar.
Eis que não dá mais para ser assim! David Orr nos diz no artigo Escolas para o Século XXI que “as habilidades, aptidões e atitudes necessárias para industrializar a Terra não são necessariamente as mesmas que vamos precisar para curar a Terra ou para estabelecer economias e comunidades sustentáveis. Os grandes desafios ecológicos requerem uma alteração das matérias, do sistema e dos objetivos do ensino, em todos os níveis (…).”
É possível que a pedagogia ecológica possa dar respostas para a construção de Eco Escolas organizadas de um modo completamente diferente das escolas de até então.
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