Para que seja possível engendrar uma pedagogia ecológica e, consequentemente, uma Eco-Escola, é necessário pensar na organização espacial de acordo com as premissas deste projeto educacional. Sendo assim, estamos discutindo a arquitetura de uma escola ecológica e para isso se faz necessário pensar nos espaços.
Uma escola convencional possui uma arquitetura mais ou menos assim (croqui bem sem vergonha esse meu!):
Analisando o croqui a cima podemos, com esforço, observar as repartições, o quadriculado, à utilidade de cada espaço. Segundo Foucault, a era clássica acelera a arte das distribuições dos indivíduos no espaço, ou dizendo de um outro modo, a disciplina. “A primeira das grandes operações da disciplina é então a constituição de ‘quadros vivos’ que transformam as multidões confusas, inúteis ou perigosas em multiplicidades organizadas.” (pg.135- Vigiar e Punir/1995/Vozes).
Portanto, os espaços livres e libertos do quadriculado não teve vez na arquitetura das escolas até então porque o intuito, desde o século XVIII, era a disciplina, “organizando as ‘celas’, os ‘lugares’, e as ‘fileiras’ criam espaços complexos: ao mesmo tempo arquiteturais funcionais e hierárquicos”. (idem)
Se até aqui falamos de conceitos tais como rede, não linearidade, multiplicidade, hipertexto, complexidade, sistema, estamos dizendo também que o quadriculado não tem vez no nosso projeto de construção. Não dá para projetar uma Eco-Escola como um quadro, assim como este retratado acima pelo meu pobre croqui. Como também não é possível projetar uma sala de aula cujos móveis se distribuem em fileiras horizontais e verticais.
Não dá porque o quadriculamento é : “ cada indivíduo no seu lugar; e em cada lugar, um indivíduo. Evitar as distribuições por grupos; decompor as implantações coletivas; analisar as pluralidades confusas, maciças ou fugidias…” “… Importa estabelecer as presenças e as ausências, saber onde e como encontrar os indivíduos, instaurar as comunicações úteis, interromper as outras, poder a cada instante vigiar o comportamento de cada um, apreciá-lo, sancioná-lo, medir as qualidades ou os méritos.” …. “ A disciplina organiza um espaço analítico.” (pg.131)
Mas aqui não é disso que se trata: uma rede, um hipertexto em que ponto começa e em qual termina? Estou indo por aqui ,salto para lá e para acolá, indo e vindo, vendo o todo no um. Liberdade para fazer conexões, inúmeras, múltiplas. Esta visão de mundo não concorda com uma arquitetura do controle e da disciplina manifestadas pela linearidade e pelo quadriculado.
Pois bem, sabemos o que não queremos, mas o que queremos, sabemos? Difícil é a ruptura com o conhecido, com a convenção, com o senso comum. Não dá nenhum trabalho aceitar pacificamente o que já está aí. E daí? A pergunta insiste: como projetar um edifício que manifeste a concepção ecológica que pretendemos aqui?
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