Em 2001 eu era diretora de uma escola privada e recebi uma mãe para efetuar uma matrícula no 1º ano do Ensino Fundamental. A mãe me disse que seu filho tinha 11 (onze) anos e ao nascer teve uma lesão cerebral, cuja sequela era a de limitação dos movimentos motores de membros inferiores e superiores e também a fala, porém o cognitivo não apresentada nenhum tipo de problema, mas até aquele momento ele havia frequentado apenas uma instituição escolar para crianças com deficiência e nunca havia estudado em uma escola regular.
Fizemos a matrícula no 1ºano do Ensino Fundamental porque a legislação da inclusão está aí para ser cumprida e iniciei uma adaptação na escola para atendê-lo.
Atualmente, toda e qualquer escola, tem que ser acessível, mas naquela época , 23 (vinte e três) anos atrás, ainda engatinhávamos em relação a acessibilidade. No entanto, fizemos: rampa de acesso a quadra de esportes, rampa de acesso a sala de aula, barras nas laterais do vaso sanitário , enfim , tudo o que era necessário para ajudar na locomoção do aluno que se locomovia de andador, sem, no entanto, conseguir movimentar as articulações, tais como joelhos, tornozelos e mãos e dedos das mãos.
Com o passar do tempo a professora percebeu que haviam limitações também de ordem cognitiva. O aluno não conseguia fixar os conceitos de letra, sílaba e palavra. Foi submetido a avaliação psicológica por intermédio de provas piagetianas que indicavam idade mental aproximada de 4 a 5 anos, estágio pré-operatório da alfabetização. Fazia garatujas e também com muita dificuldade, porque havia o problema das articulações das mãos e dos dedos, o que limitava o uso do lápis para traçar as letras.
Nesse ano letivo reprovamos esse aluno e conversamos com a mãe informando-a que iríamos estabelecer um novo direcionamento para o trabalho pedagógico no ano seguinte. Na verdade eu não tinha a menor ideia do que fazer, mas o segundo ano dele na escola iniciou e para poder saber como intervir positivamente em seu aprendizado começamos a analisar as observações feitas sobre o aluno durante todo o ano anterior e descobrimos que ele gostava muito de computador.
Então, veio-me um estalo: alfabetizá-lo por intermédio do computador, porque a limitação motora dificultava muito o traçar letras e o uso do lápis ao passo que o teclado facilitava o aprendizado da escrita.
Isso significava que a ferramenta da escrita lápis não era apropriada para uma pessoa com limitação motora fina e grossa, mas a ferramenta da escrita teclado era um facilitador.
Colocamos um computador na sala de aula e dissemos a ele que seu caderno escolar a partir daquela data seria o computador. Ele ficou feliz e a mãe satisfeita de perceber que a escola estava tentando adaptar seu modo de ensinar com as necessidades de seu filho.
O avanço foi fenomenal em todos os sentidos. Claro que a dificuldade existia e que o aluno não atingiu os objetivos daquele ano, mas houve um saldo extraordinariamente positivo que o estimulou a enfrentar os obstáculos. Mas em função da relação idade x série, como também turma de alunos/amigos estabelecido neste segundo ano em nossa escola, determinei, baseando-me na legislação da educação com necessidades especiais, que não mais haveria retenção deste aluno. Disse para a professora que a partir de um diagnóstico um Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) seria traçado para ele e a avaliação seria realizada a partir deste plano.
De modo que este aluno seguiu seus estudos sempre com a mesma turma e sempre com o seu computador e os avanços foram enormes, porém o conteúdo ministrado para ele era diferenciado do restante da classe , isto é, havia um projeto específico para atender o seu nível de aprendizagem.
Quando este aluno chegou no 6o ano, ele já acompanhava os conteúdos de História, Ciências e Geografia ministrados para a sua turma. A dificuldade permanecia em Matemática, Português e Inglês. Esses componentes curriculares eram adaptados de acordo com as suas necessidades.
Oferecíamos aulas de reforço no contra-turno, e as avaliações também era adaptadas e, portanto, distintas àquelas oferecidas para a sua turma.. Enfim… todo um conjunto de ações diferenciadas para atendê-lo.
Era especialmente difícil fazer com que os professores dos anos finais do Ensino Fundamental compreendessem que se tratava de aluno com necessidades educacionais especiais e que, portanto, precisava de um atendimento diferenciado.
A maioria do professorado licenciado não sabe lidar com diferenças porque lecionam de forma padronizada, sair deste padrão dá trabalho e requer estudo e. muitos deles. não possuem esta disponibilidade.
Havia também o lado do aluno que, em muitas ocasiões, utilizava a sua deficiência para fazer corpo mole e desistir de alguns desafios.
Quando eu deixei a escola, este aluno estava terminando o Ensino Fundamental e no ano seguinte ingressaria no Ensino Médio. As minhas recomendações eram de que a escola continuasse os mesmos procedimentos até o final desta nova etapa de ensino.
Certamente ele concluiu o Ensino Médio e com exceção do 1º ano do Ensino Fundamental, a reprovação nunca mais foi utilizada. Penso que já completou os 34 (trinta e quatro) anos de vida e com desenvoltura no manuseio de computadores, calculadoras e com movimentos motores bem mais flexíveis. Seu cognitivo expandiu certamente pode encarar o mercado de trabalho e a continuidade de seus estudos.
Todo este processo foi regado a muita luta , mas coube à Escola cumprir com sua obrigação de organizar um Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) para atender todas as características e peculiaridades de condição de aprendizado deste seu aluno garantindo o princípio constitucional da isonomia
gostaria de saber se posso pedir na justiça que meu filho seja retido na 4 serie do ensino fundamental porque ele nao esta totalmente alfabetizado preciso de ajuda obrigado
Olá Alessandra,
Mas o que está acontecendo com ele? Escola particular ou pública (municipal ou estadual) ? Qual Estado e cidade?
Aguardo