Uma das maiores queixas dos docentes da rede pública e privada da Educação Básica recai no comportamento dos alunos. O desapontamento não diz respeito às traquinagens próprias da idade, mas ao individualismo exacerbado, a total falta de respeito à autoridade, agressões verbais e físicas contra colegas e contra os próprios professores.
A situação de vitimização dos professores e violência das escolas de todo o Brasil se agrava a cada dia e reflete as quantas andam as famílias e a sociedade de modo geral.
Diante deste quadro, parece que o resgate da discussão sobre a virtude, ou a ética da virtude é mais do que bem-vindo, sobretudo, na Educação Infantil, momento apropriado para o início da construção das virtudes.
“Não há nada mais belo e mais legítimo do que o homem agir bem e devidamente”, dizia Montaigne
Segundo Aristóteles, a virtude é uma disposição adquirida de fazer o bem. A virtude é adquirida, já que não nascemos virtuosos, mas nos tornamos por intermédio da prática cotidiana, do hábito de fazer o bem.
“… em relação a todas as faculdades que nos vêm por natureza recebemos primeiro a potencialidade, e, somente mais tarde exibimos a atividade (isto é claro no caso dos sentidos, pois não foi por ver repetidamente ou repetidamente ouvir que adquirimos estes sentidos; ao contrário, já os tínhamos antes de começar a usufruí-los, e não passamos a tê-los por usufruí-los); quanto às várias formas de excelência moral, todavia, adquirimo-las por havê-las efetivamente praticado, tal como fazemos com as artes. As coisas que temos de aprender antes de fazer, aprendemo-las fazendo-as – por exemplo, os homens se tornam construtores construindo, e se tornam citaristas tocando cítara; da mesma forma, tornamo-nos justos praticando atos justos, moderados agindo moderadamente, e corajosos agindo corajosamente. Essa asserção é confirmada pelo que acontece nas cidades, pois os legisladores formam os cidadãos habituando-os a fazerem o bem; esta é a intenção de todos os legisladores; os que não a põem corretamente em prática falham em seu objetivo, e é sob este aspecto que a boa constituição difere da má.” (ARISTÓTELES, Ética a Nicômacos, p.35-6)
Mas o hábito é construído mediado pelo Outro. O Outro ensina pelo exemplo e por narrativas que contam os feitos dos grandes virtuosos: o herói com a sua coragem, o santo com a sua compaixão, dentre outros. Desse modo, a virtude vai sendo imitada e praticada cotidianamente. Porque a idéia de imitação e de mimesis é o centro da análise estética de Aristóteles.
Por isso, a importância de uma ação educativa que assuma a proposta de Aristóteles da imitação/representação do bom, do belo e do bem, tríade necessária para pensar a formação da virtude ao educar.
Leia com seus filhos: