Fonte : CEE-SP Desafios de Convivência Escolar e Intervenções Integradas
Professora Telma Vinha, pedagoga e doutora em Educação pela Unicamp, abordou na Sessão Plenária ao CEESP, de maneira profunda os desafios da convivência escolar atual, destacando como questões de violência, bullying, incivilidade e a falta de pertencimento impactam tanto estudantes quanto professores.
Ela explorou a complexidade dessas questões, enfatizando que as intervenções na escola devem ser estruturadas de forma integrada, atuando no nível interpessoal, institucional e curricular, com foco no bem-estar, saúde mental e pertencimento
Segundo Telma Vinha, a convivência escolar vai além de lidar com o comportamento dos estudantes. A escola é um espaço central de aprendizado coletivo e de desenvolvimento de valores democráticos, além de ser crucial para a regulação emocional dos alunos.
Ela destacou que é nesse ambiente que as crianças e jovens aprendem a conviver em público, coordenar
diferentes perspectivas e fortalecer o bem-estar emocional.
“A escola reflete o futuro da nossa sociedade.Se falharmos em promover um ambiente de convivência saudável, o impacto será visto em toda a sociedade”, afirmou.
No entanto, ela destacou, os problemas de convivência estão se intensificando, exigindo intervenções mais
estruturadas e adequadas.
Um ponto crucial da palestra foi a distinção clara entre os diversos tipos de problemas de convivência. Muitas escolas,
tendem a lidar com indisciplina, incivilidade e violências estruturais de maneira uniforme, o que é ineficaz. A incivilidade, por exemplo, apesar de perturbadora, não é necessariamente violência, mas interfere diretamente no
funcionamento da sala de aula.
“A indisciplina e a incivilidade exigem intervenções específicas para que o ambiente escolar não se torne caótico. Não é a violência física, mas a falta de civilidade no convívio coletivo que muitas vezes torna a sala de aula ingovernável”,
Dados apresentados pela professora mostraram um aumento expressivo de conflitos e agressões nas escolas, principalmente após a pandemia. Em 2022, o número de ocorrências de violência interpessoal mais do que dobrou em relação a anos anteriores.
O ambiente escolar, já sobrecarregado pela falta de recursos, está enfrentando um cenário de crescente desordem e
agressividade. A especialista enfatizou que esses problemas estão sobrecarregando gestores e professores, que dedicam grande parte de seu tempo lidando com conflitos em vez de focarem no ensino.
BULLYING: UM PROBLEMA SISTÊMICO E SUBESTIMADO
O bullying foi descrito como uma questão sistêmica e grave. Segundo Telma, 25% dos estudantes se identificam como vítimas de bullying, mas muitas instituições ainda subestimam o impacto desse problema. O bullying, para ela, não se resume a incidentes isolados, mas a uma série de humilhações recorrentes que criam uma cultura de violência e exclusão entre os pares. “Os espectadores, aqueles que assistem ao bullying sem intervir, são parte fundamental desse problema. Muitas vezes, esses alunos temem se tornar as próximas vítimas ou até acham graça das agressões”, explicou.
DESIGUALDADE E RACISMO NO AMBIENTE ESCOLAR
A palestra também trouxe à tona as questões de desigualdade racial e de gênero. Telma destacou que alunos negros e LGBTQIA+ são mais frequentemente vítimas de bullying e discriminação.
“As violências estruturais, como racismo e machismo, atravessam todas as dimensões da convivência escolar”, afirmou.
Ela defendeu a implementação de políticas públicas e ações mais robustas para combater essas desigualdades, como a inclusão de programas antirracistas e a criação de espaços de escuta e apoio psicológico dentro das escolas
A crescente influência das redes sociais e das comunidades online também foi mencionada como uma fonte de grande preocupação. Muitos jovens estão sendo expostos a espaços digitais que incentivam comportamentos autodestrutivos, como autolesão e distúrbios alimentares, além de promoverem conteúdos violentos. Esses jovens, segundo Telma, buscam nas redes sociais o pertencimento e a validação que não encontram na escola, mas acabam se envolvendo em ambientes que amplificam seu sofrimento emocional.
Os ataques violentos em escolas, um fenômeno crescente no Brasil,também foram abordados na palestra. Telma apresentou dados que mostram um aumento significativo de ocorrências nos últimos anos. Ela explicou que a maioria dos agressores são adolescentes do sexo masculino, frequentemente vítimas de exclusão e bullying, que encontram em atos violentos uma forma de expressar seu sofrimento. “Esses ataques são a manifestação extrema de uma sociedade que falha em acolher seus jovens”, alertou, destacando a importância de intervenções preventivas e de apoio emocional contínuo.
A crescente influência das redes sociais e das comunidades online também foi mencionada como uma fonte de grande preocupação. Muitos jovens estão sendo expostos a espaços digitais que incentivam comportamentos autodestrutivos, como autolesão e distúrbios alimentares, além de promoverem conteúdos violentos. Esses jovens, segundo Telma, buscam nas redes sociais o pertencimento e a validação que não encontram na escola, mas acabam se envolvendo em ambientes que amplificam seu sofrimento emocional
Para melhorar a convivência escolar, Telma apresentou uma série de propostas de intervenção, que vão desde
iniciativas preventivas até a criação de políticas públicas duradouras.
Ela destacou a importância de promover o bem-estar emocional dos alunos e de criar espaços de escuta ativa e
práticas de mediação de conflitos. A especialista também defendeu a inclusão de temas de convivência e saúde
mental no currículo escolar, para que tanto professores quanto estudantes estejam preparados para lidar com esses
desafios de forma sistêmica e integrada.
“Não basta reagir quando os problemas surgem. É preciso criar um ambiente escolar que promova o respeito, a
inclusão e a valorização das diferenças desde o início”