Digo de imediato que o trabalho pedagógico com alunos com necessidades educacionais especiais (TDAH, DPAC, DA, síndrome de dow, espectro de autismo, altas habilidade/superdotação, surdos, cegos, lesão cerebral, dentre outros) não é tarefa fácil, porque envolve o entendimento do Outro (questão de alteridade) e atender de forma efetiva a diversidade das singularidades de estar e ser no mundo. Por outro lado, o que é a escola senão o lugar privilegiado para a pesquisa diária em busca de encontrar soluções para os desafios que se apresentam em relação ao processo de ensino/aprendizagem?
Conto-lhes, a título de exemplo, que quando eu ocupava o cargo de diretora pedagógica em uma escola privada no município de Campinas, recebi um aluno para matricula no 1o ano do Ensino Fundamental. Estávamos em 2001 e o aluno já havia completado 11 anos de idade sem nunca ter estudado em escola regular, vindo da Pestalozzi, com diagnóstico de lesão cerebral moderada e, segundo a mãe, seu comprometimento dizia respeito a limitação dos movimentos de seus membros superiores e inferiores, como também, um comprometimento cognitivo bastante significativo.
Ao receber o aluno, nosso primeiro movimento foi o de oferecer a ele condições de acesso a sala de aula e, sobretudo, ao banheiro, uma vez que estávamos em 2001 e, naquela ocasião, não se falava de arquitetura acessível. De modo que a escola tinha degraus e escadas que ele não conseguia transpor porque usava andador.
Com relação ao processo de ensino/aprendizagem, aplicamos os testes piagetianos e concluímos, por intermédio deles, que sua idade mental era de 5 anos, uma vez que não conservava: quantidades, volumes, dentre outros. A fala era comprometida e não era alfabetizado.
Um ano de observação e análise, pesquisando e trocando informações com outros profissionais, mas neste primeiro ano ele sequer aprendeu a traçar as letras, em função da dificuldade com a coordenação fina. De modo que pegar em um lápis era muito difícil, quanto mais escrever com ele. Números nem pensar.
E o que fazer?
Percebemos que ele gostava das aulas de informática e daí surgiu a ideia: alfabetizá-lo com o teclado do computador em detrimento do lápis e do caderno. O teclado facilitava muito, porque com apenas um toque ele conseguia escrever de forma legível. Naquela época o laptop não era de uso comum, por esta razão, tivemos que deslocar um computador do laboratório de informática para a sala de aula e assim o computador passou a ser o seu material didático.
Ele refez o 1o ano, mas com o computador, o avanço foi expressivo e conseguiu, no ano seguinte, seguir para o 2o ano do Ensino Fundamental e nunca mais foi necessário reprová-lo porque, depois que encontramos o caminho pedagógico para trabalhar com este aluno não foi mais necessário utilizar da reprovação para atingir os objetivos pretendidos.
A professora adaptou o seu Plano de Trabalho anual para a especificidade do aluno. Isto significa dizer que os conteúdos programáticos eram ministrados de forma geral, mas a exigência para com este aluno estava circunscrita a sua capacidade real. Assim, introduzimos o PDI – Plano de Desenvolvimento Individual, indicando quais eram os objetivos específicos de cada componente curricular que esperávamos dele a partir do que ele conseguiria atingir naquela série e que diferenciavam do restante da classe.
Todos os anos ele foi promovido porque avançava dentro dos objetivos que foram traçados de modo específico para ele. Com este procedimento pedagógico, ele concluiu o Ensino Fundamental com 19 anos e seguiu para o Ensino Médio.
Após esta trajetória, ao seu final, ele era irreconhecível. O avanço do desenvolvimento intelectual, motor e afetivo, propiciados pela aprendizagem significativa, orientada pelo entendimento de Vygotsky, era notório. Vygotsky disse: o aprendizado, mediado pelo Outro, alavanca o desenvolvimento. Aí está o pulo do gato: o trabalho do professor efetivo, mediando o conhecimento, voltado para a necessidade educacional especial do aluno FAZ TODA DIFERENÇA!!
Família, escola e outros profissionais podem juntos promover avanços nos processos de inclusão escolar em escolas regulares desde que se tenha empenho, dedicação e vontade de fazer acontecer.
Sou a Profa.Sônia Aranha,pedagoga, consultora educacional e bacharela em Direito atuando com direito do aluno com vistas a caminhos pedagógicos mais promissores. Caso precise consultar-se comigo, entre em contato: saranha@mpcnet.com.br