Andando por aí, porém com foco, encontrei um trabalho bem bacana de um pessoal de uma ONG de nome Núcleo de Amigos da Terra Brasil , de Porto Alegre, cujo tema é Centro de Referência para Edificações Sustentáveis em Meio Urbano
Achei muito interessante a metodologia aplicada para desenvolver um projeto de edificação sustentável e acredito que este projeto poderia se constituir enquanto sugestão para orientar um projeto de construção para uma Eco-Escola.
Como sou da área de educação, pouco sei de arquitetura, mas conhecer as etapas de um projeto de construção que pretende ser ecologicamente correto, economicamente viável e socialmente responsável é importante para atingir os objetivos aqui propostos.
Pois bem, o pessoal do Núcleo de Amigos da Terra Brasil contratou uma equipe que iniciou o projeto do Centro de Referência a partir de 4 etapas : levantamento de dados, estudo preliminar, anteprojeto e projeto executivo.
Iniciemos com a primeira etapa, o levantamento de dados: trata-se de conhecer os usuários e o contexto da Eco-Escola por intermédio de entrevistas e reuniões visando definir um programa de necessidades.
Entendo que para uma Eco-Escola seria muito promissor desenvolver esta primeira etapa envolvendo o corpo docente, a equipe técnica pedagógica, todos os demais profissionais que se fazem presentes em uma unidade escolar, além da comunidade do entorno da obra.
Se a Eco-Escola fosse uma iniciativa privada, seria preciso primeiro contratar o corpo docente e a equipe técnica, ou selecionar profissionais que estivesse de acordo com o projeto para participarem dele bem do início, ou seja, do primeiro tijolo. O mesmo procedimento poderia ocorrer se a iniciativa partisse da rede pública de ensino por intermédio da vontade manifesta dos professores, diretores escolares, dentre outros profissionais.
Seria bacana, não? Quando é que nós da educação somos chamados para discutir um projeto de construção do edifício-escola? Sim, não me esqueci de toda uma legislação que prescreve quantos metros deve ter uma sala de aula (salvo engano é um metro quadrado por aluno), orientações inclusive de metragem para quadra desportiva, laboratório de ciências, biblioteca e etc…Tudo bem. Mas quem tem que saber disso? Quem sabe isso? Em geral o Diretor Escolar orienta a obra conforme a legislação e os supervisores de ensino, alocados em suas Diretorias, aprovam ou não a solicitação de abertura de uma escola. Os professores e outros profissionais ao chegar para trabalhar já encontram a escola pronta, prontinha para funcionar e cabe a todos aceitar a convenção.
Refiro-me aqui a outra situação: quando é que paramos para pensar sobre a relação entre o projeto político/pedagógico e a arquitetura escolar? Elaboramos, supostamente, de forma coletiva o projeto político/pedagógico da escola, mas não pensamos se seus princípios estão ajustados com aqueles que orientaram o projeto arquitetônico.
Quem nos alerta para esta questão é Michel Foucault no seu livro
Vigiar e Punir especificamente no capítulo Corpos Dóceis.
Conta-nos Foucault que os presídios, os hospícios e as escolas possuem a mesma estrutura arquitetônica, justificada por um projeto comum de ordenamento, controle, da arte da distribuição. As estruturas arquitetônicas dos hospícios, das escolas, das fábricas, dos presídios de até então, comungavam um único pressuposto, a disciplina, que na maioria da vezes exige a cerca, o muro, a fileira , o quadro, sempre fechado. A distribuição e divisão dos espaços possuíam um rigor, por exemplo, o quadriculamento.
Já viu uma sala de aula? O piso é quadriculado, ou seja, 1 metro quadrado para cada aluno. Cabe aí uma carteira com uma cadeira, enfileirada horizontal e verticalmente. Os mais baixos e mais estudiosos à frente, os mais altos e menos estudiosos no fundo. À frente da classe o professor com sua mesa maior e posicionada à direita ou à esquerda do quadro negro. Esse ordenamento por fileiras no século XVIII, segundo Foucault, “começa a definir a grande forma de repartição dos indivíduos na ordem escolar.”
Sendo assim, é preciso que uma nova organização espacial seja pensada que combine com um projeto ecológico/político/pedagógico cujos pressupostos se apóiam nos conceitos de visão de mundo que se faz sistêmica, multifacetada, complexa e em rede.
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