Por:Favela 247 – O professor de biologia Luiz Henrique Rosa – da Escola Municipal Herbert Moses, no Jardim América, Zona Norte do Rio –, incomodado com a quantidade de palavras preconceituosas utilizadas por seus alunos, pediu para que cada um deles fizesse uma lista de todos os termos pejorativos que eles usavam. O resultado foi uma lista com mais de 600 palavras, sendo 360 delas de cunho racista. Segundo o professor, que consultou 11 turmas com média de 40 alunos cada, a maior parte dos estudantes da escola é afrodescendente.
“Eles colocaram no papel vários apelidos e eu fui sistematizar as palavras que eles escreveram. Só quando botei no papel é que tive a noção da quantidade de termos racistas que eles usavam“, diz. “O mais comum entre os alunos era ‘macaco’, em seguida aparecem termos relacionados à inferioridade intelectual, aos traços físicos e comportamentais, como ‘cabelo duro’ e ‘negro safado’“, explicou Rosa em reportagem para o UOL.
Após o levantamento o professor e os alunos montaram um painel com todas as expressões, para discutir em sala de aula u uso dos termos racistas. Dessa experiência surgiu, no fim de 2009, o projeto “Qual é a graça”, que visa também ensinar sobre escravidão no Brasil, a Revolta das Vassouras (uma rebelião de escravos ocorrida em 1838) e o seu principal protagonista, Manuel Congo, até então um desconhecido dos alunos.
O projeto “Qual é a graça” transformou o quintal da escola em uma homenagem aos 200 escravos que pertenciam ao mesmo dono de Congo – que morreu enforcado na cidade de Vassouras (RJ) durante a rebelião dos negros. Os nomes dos personagens da revolta foram gravados em pequenos pedaços de mármore, e cada um deles foi “apadrinhado” por um aluno. Há outras 40 pedras com a inscrição “Deus sabe o nome“, em referência aos escravos não identificados.
“Também criamos o ‘canteiro navio’, onde os alunos plantam e acompanham as espécies por 60 ou 90 dias, que era o tempo que dois navios negreiros demoravam para chegar ao Brasil e em que os escravos permaneciam acorrentados“, diz o professor. O jardim, antes abandonado, tem hoje mais de 300 espécies vegetais e é visitado por 20 espécies de borboletas. Há plantas relacionadas à história, como a pau-brasil, e à literatura, como a laranja-lima.
Após mais de quatro anos de projeto, o professor diz que o resultado é perceptível na comunidade escolar: houve redução do bullying e das brigas entre alunos. “‘O Qual é a graça’ vai além da questão racial, busca o bom convívio e o combate ao preconceito de todas as formas”, afirma Rosa.
O projeto “Qual é a graça” atende à lei 10.639/03, que trata da inclusão do ensino de história e cultura afro-brasileira no currículo escolar.
Assista abaixo a uma reportagem da TV Brasil sobre o projeto.